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Leonardo Da Vinci - Em Busca da Sabedoria.

Atualizado: 31 de ago. de 2023

Neste espaço, desejo compartilhar a origem da minha paixão por Leonardo da Vinci. Durante a minha infância, meu primeiro contato com os nomes dos renascentistas ocorreu por meio das Tartarugas Ninjas, um desenho animado que fez sucesso na televisão brasileira durante os anos 90. Baseado na obra dos quadrinistas norte-americanos Kevin Eastman e Peter Laird, o desenho se tornou uma febre global. Dado meu interesse em artes marciais, skate e desenho, era praticamente inevitável não curtir esse desenho. Lembro-me de passar horas desenhando as tartarugas, Leonardo, Michelangelo, Raphael e Donatello.


Nessa época não sabia a importância desses nomes, muito menos que o Leonardo era o autor da Mona Lisa e que sem saber a Mona Lisa esteve muitas vezes próxima de mim. Meu avô materno possuía uma réplica, uma versão impressa em tela de excelente qualidade.


Lembro-me de observá-la de perto diversas vezes e de passear por entre as paisagens, enquanto minha imaginação infantil me guiava pelos contornos sinuosos que se desdobravam à sua volta. Era capaz de me transportar para a paisagem de terra revirada, com suas curvas e a ponte que conduzia a um caminho misterioso.

Essas aventuras ocorriam quando visitávamos meus avós e nas ocasiões em que brincávamos sobre o conforto do tapete da sala. Isso acontecia muito antes de conceber a ideia de me tornar um artista, quando tal noção sequer cruzava minha mente infantil.


Em muitas ocasiões, desenhei deitado no chão, sob o sorriso enigmático da Senhora Gioconda.

Muitos anos depois a arte do desenho se tornou minha companheira, minha fuga do mundo e meu portal para criar outros mundos.

Durante meus anos de estudo em arte e sobre a representação da figura humana, naturalmente, encontrei os mestres renascentistas. Foi nesse período de juventude e aprendizado que me interessei mais pela obra de Michelangelo, do que a do Leonardo.


O filme "Agonia e Êxtase", uma cinebiografia de Michelangelo que retrata a pintura da Capela Sistina, me fascinou pela grandiosidade do trabalho de Michelangelo, a intensidade dos personagens e a precisão anatômica. A rebeldia demonstrada por ele ao enfrentar o Papa também me intrigou. Tudo isso parecia mais cativante do que a supostamente "monótona" Mona Lisa de Leonardo e suas figuras andróginas.

As figuras presentes nas pinturas e esculturas de Michelangelo assemelhavam-se mais aos heróis das histórias em quadrinhos que eu admirava e sonhava em desenhar.


Mapa das cenas no teto da capela.

Estudo que realizei sobre o painel principal do Michelangelo

Aprofundei-me nos estudos de Michelangelo, recriando muitas de suas obras por meio de estudos pessoais. A imagem da "Criação de Adão" e a recente descoberta, no século XXI, das mensagens simbólicas subjacentes às

pinturas de Michelangelo me cativaram profundamente. A presença notável do cérebro na "Criação de Adão" é incrivelmente impressionante, e o fato de

que esses códigos tenham permanecido ocultos por 500 anos é fascinante.


Essa genialidade dos mestres renascentistas e a força que suas obras trouxeram, foram capazes de romper as correntes de um milênio de obscurantismo imposto a humanidade.


Dois médicos anatomistas brasileiros, Gilson Barreto e Marcelo G. de Oliveira, desempenharam um papel fundamental na descoberta de outras representações de órgãos humanos nas pinturas da Capela Sistina. Eles contribuíram para revelar possíveis códigos que Michelangelo teria ocultado em sua obra. Quais seriam exatamente esses códigos? É uma questão difícil de responder.

No entanto, a presença das formas é inegável, evidentes e bem definidas. A teoria que ganha mais destaque é aquela que sugere que Michelangelo incorporou em sua obra um estudo profundo sobre a anatomia humana.


Isso, por si só, já poderia representar uma quebra dos dogmas religiosos que vigoravam na sua época. Essa teoria é a mais simples e talvez óbvia, considerando que Michelangelo inicialmente executou esse trabalho relutantemente. Embora isso seja factual, há diversas teorias em circulação sobre o assunto.


Porém, uma coisa é incontestável: a grandiosidade do trabalho de Michelangelo e de seus assistentes. Esses assistentes, embora não tenham sido imortalizados na história, foram essenciais para que hoje possamos ainda admirar a beleza e a genialidade alcançada por essa obra. Há inúmeras teorias a respeito das pinturas renascentistas, incluindo as de Leonardo.

Cada pincelada e cada traço são testemunhas silenciosas da busca incessante por expressão artística e conhecimento humano. Essas obras transcenderam o tempo, continuando a nos intrigar e inspirar nos dias atuais. Diante de cada detalhe, somos lembrados da habilidade singular desses mestres e da coragem de desafiar as normas estabelecidas, deixando um legado que ecoa através dos séculos.


No entanto, talvez a verdadeira função dessas obras seja justamente estimular o pensamento e provocar hipóteses. Elas nos convidam a expandir nossa visão e a enxergar para além das próprias pinturas. Navegar por essas descobertas sem a obrigação de encontrar respostas definitivas nos ensina a apreciar o processo mental de desvendar enigmas. É possível que seja exatamente essa jornada que nos leve a aumentar nossas habilidades e capacidades.


As obras renascentistas, com seus mistérios entrelaçados, nos instigam a abraçar o desconhecido e a abordar o mundo com uma mentalidade inquisitiva, perpetuando o legado de busca por sabedoria e beleza que permeia cada detalhe dessas criações atemporais.


Certamente, falar de Michelangelo é uma tarefa que não pode ser limitada em poucas palavras. Talvez ele mereça um artigo exclusivo dedicado inteiramente a ele no futuro, para explorar a riqueza de sua contribuição artística e seu impacto duradouro.


No entanto, retornando ao objetivo central desse texto, a paixão por Leonardo continua a ser um ponto de destaque em minha jornada. À medida que o tempo passou e minha maturidade como artista se desenvolveu, expandi meus estudos sobre a obra e o legado de Leonardo. Seu "Tratado da Pintura", que foi publicado pela primeira vez em português no Brasil pela editora Criativo, desempenhou um papel crucial em minha compreensão de sua visão sobre a arte do desenho e da pintura. Enquanto eu lecionava e coordenava cursos de arte em São Paulo, essas informações, descritas pela própria mão esquerda do mestre florentino (Leonardo era canhoto), se revelaram extremamente valiosas.

Outro livro de suma importância que aprofundou meu conhecimento sobre a arte de Leonardo foi o trabalho de Fritjof Capra, "A Ciência de Leonardo da Vinci". Por meio dessa obra, pude compreender que Leonardo transcende a figura de um pintor que concluiu poucas telas. Seu domínio se estendia por diversas áreas, que ele abraçava com maestria.


Seus interesses ecléticos ultrapassaram em muito o seu próprio tempo. Suas investigações foram pioneiras na anatomia, no estudo de fósseis, em observações de aves, no desenvolvimento de máquinas voadoras, nas explorações botânicas, na geologia, na óptica, na hidráulica e até mesmo nos armamentos.

Em 2017, veio à luz: a incrível biografia de Leonardo, escrita por Walter Isaacson. Esta biografia alcançou um sucesso estrondoso em vendas, revelando um aspecto humano de Leonardo que atualizou muitas outras biografias e incorporou as mais recentes pesquisas sobre o seu passado e os enigmas que cercam a sua história, em especial sobre sua mãe. Nesse contexto, Isaacson apresenta a intrigante teoria de que a ascendência de sua mãe não era italiana.


O céu nunca representou um limite para Leonardo, assim como a incompreensão, a sensação de inadequação e as barreiras impostas pelas limitações da sua época não conseguiram conter o potencial extraordinário desta mente brilhante.


A trajetória de Leonardo da Vinci, pintor e pensador além do seu tempo, ecoa através dos séculos como um lembrete inspirador do que a perseverança e a curiosidade podem alcançar. Seja por meio das cores que ele imortalizou em suas telas ou das ideias que ele desbravou em seus manuscritos, seu legado transcende as fronteiras do espaço e do tempo.


Ao folhear as páginas de Isaacson, surgia em minha mente o pensamento: essa história deveria estar presente nos quadrinhos. A Renascença e seu símbolo máximo pareciam verdadeiramente saídos de uma trama de histórias em quadrinhos. Os feitos extraordinários de Leonardo, como desviar o curso de um rio ou conceber uma máquina voadora, eram tão surpreendentes que pareciam pertencer a um universo ficcional. E assim, de forma despretensiosa, comecei a rabiscar algumas ideias.

A partir desse ponto, puxei um pequeno fio que, com o tempo, se transformou em um novelo de possibilidades. Isso ocorreu por volta de 2018. Iniciei o esboço de personagens e comecei a considerar retratar uma fase crucial da carreira de Leonardo. O ano de 2019 trouxe consigo as comemorações dos 500 anos desde a morte de Leonardo.

Mas a continuação desta história será compartilhada em breve.


Encerro por aqui para que este artigo se mantenha acessível à leitura. Vocês sabem como é, quando se trata de um assunto apaixonante, a vontade de falar é imensa, mas deixarei os detalhes para a próxima parte. Em breve, trarei a continuação na segunda parte, onde compartilharei mais sobre o projeto e seu desenvolvimento. Fiquem atentos para acompanhar esta empolgante jornada.

Agradeço sinceramente a todos que chegaram até esta etapa.


Atenciosamente,

Guilherme Raffide



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